quarta-feira, setembro 24, 2008

[a vaidade]

o autêntico sinal entre nossos gênios é um modo pervertido de vaidade, e inversão da vontade [ou fraqueza de vontade]. neles o grau de humilhação amplia o orgulho e, atingir a lama e a podridão, corresponde a um máximo de bem-estar. em cada sinistro exemplar desses ratinhos urbanos pulsa tal crença [ou tal niilismo!]. portanto, não é propriamente um deprimido o gênio de nosso tempo: seu modus vivendi é antes a reflexão da velha má-consciência, o gozo particular do ressentimento, a reserva individual de sofrimento como posse de uma riqueza sobre-humana - é ainda o "abandono de si". são os envenenadores do século! sobre eles, cairia perfeitamente bem aquela fábula do crucificado:
"vejam como sofro, vejam como suporto! não será um deus quem suporta tamanho martírio? não deve haver nele um monstruoso saber? estará guardando um grande segredo? - não serei, por acaso, o alvo e a expiação suprema de vossos pecados? eis o rio onde desagüam vossas faltas! a pura superfície de punição e penitência de toda uma época! - isto! admirem-me! louvem-me! posso resistir a todas as privações e castigos; não posso, entretanto, viver sem vosso amor e honra! - e aqueles por quê não olham? por quê justamente aqueles não tomam a sério? não está aqui algo digno a rebaixar-se? - pois a vocês estão reservados piores sofrimentos e piores labutas! e tarde será para arrependimentos! e, é certo, não neste plano baixo e aparente (que tenho eu com mundos inferiores?)! não, aqui as penas ainda são terrivelmente brandas! como tenho piedade deste vosso desprezo e arrogância! pobres almas!"
[e, talvez no íntimo, após suspirar, sussure de si para si: "mal sabem que a mim só a cruz causa prazer! só pregado na cruz inspiro afeto! como os invejo, tais desprezadores e superficiais! e a minha inveja é do tamanho da minha cruz.]

Nenhum comentário: