terça-feira, setembro 23, 2008

[esperança]

Indiscutivelmente Mandy sabia como me deixar deprimido. Tinha um prazer mórbido e dilatado em relembrar a minha esterilidade. Jamais vou compreender porque, justamente para ela, sempre me esforçava para me mostrar mais luminoso ou mais genial do que era na verdade. Se por um lado era visível que alguma parte minha apodrecia e que era pura carne putrefata – como se estivesse morta, como ela dizia –, eu juro que existia também uma outra parte, talvez imperceptível, insignificante, semi-oculta, minimamente quantificável, e que ela evidentemente desprezava, mas que se mantinha acesa, que ardia e crepitava entre os escombros, e que suficientemente friccionada, no futuro, explodiria como mil foguetes de artifício. Esta fração sobrevivente não tolerava que Mandy me espezinhasse. Embora fosse exteriormente incognoscível, a partícula de vida, o elemento de força e potência resistente em mim brilhava e reluzia como uma pira irreprimível e inesgotável.

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