terça-feira, setembro 23, 2008

[a perdição]

Quando o vejo – perdoe-me a franqueza –, posso vê-lo extinguindo-se como a cabeça de um palito de fósforo: muito cedo veremos a sua hora derradeira. Sim, você agora está como que inutilizado em um leito de hospital alojado no seu próprio cérebro, e repleto de enfermidades até o pescoço. Não é possível que não perceba as mãos de enxofre da História em volta de seu pescoço lhe estrangulando! As pessoas o abominam – eu preciso dizer – porque você é uma espécie de inválido moral, de libertino paraplégico que não se dispõe a dar o menor dos passos em direção a Deus ou ao seu próximo. Que monstro você é! Tanto o seu corpo como a sua alma se converteram em uma câmara escura. Você se transformou em uma caverna na qual é impossível um resquício de luz poder penetrar; nesse seu intelecto satânico, me parece, nenhuma chama de luz é capaz de freqüentar ou vigorar estavelmente – eliminando, por assim dizer, a sua densa partícula negra – a não ser que seja inevitavelmente um fogo destrutivo e amaldiçoado. Você é um homem perdido, eis a verdade! Nunca irá exclamar, como Goethe no fim da vida, que deseja mais luz, mas suspirará algo como ‘mais trevas e mais tormentas’... Eu juro por tudo que me é sagrado que jamais compreenderei a razão pela qual você ainda se julga um poeta! – embora creia que esta seja apenas uma parte da arrogância comum a todos os seus ‘anjos’ que caem do céu renegando a Deus.

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