terça-feira, setembro 23, 2008

[os poetas modernos]

Os historiadores da literatura transformaram os poetas modernos em homens diabólicos, difundiram uma concepção ectoplasmática em que os poetas são verdadeiros injustiçados dos céus. Eu posso imaginar estes historiadores elaborando suas teses onde os poetas aparecem como mártires que agonizavam numa cruz imaginária, como mendigos imundos e maltrapilhos com crânios maravilhosos, ou homens muito magros que tinham vermes enormes nos estômagos, etc. Por serem um pouco necrófilos, os historiadores invocam essas imagens em que homens de carne e osso passeiam como mortos-vivos, como cadáveres andantes e etc. Eu não acho que isto seja verdadeiro: porque o poeta é um burguês, e um burguês nunca é totalmente honesto. Se por um lado é verdade que mergulharam nas profundezas, e conheceram a maldição de viver onde não existe luz, nunca arriscaram verdadeiramente suas vidas. Os burgueses nunca mergulharam muito fundo no oceano. Podemos sinteticamente dividi-los em três classes – imagine, como disse um filósofo grego, que a água é a vida: alguns, dentre eles, correm na praia e atiram-se na água rasa, onde ficam se desviando das ondas maiores, ora enfiando a cabeça para debaixo d’água, ora subindo a superfície assombrados; outros, mais curiosos e mais espirituosos, desabam no alto-mar cheios de paixão com escafandros e com cápsulas de oxigênio nas costas, contemplando o universo marinho encerrados na sua proteção hermética; enquanto a maioria, legitimamente denominados os superficiais, permanece deitada na areia da orla, com a pele untada de protetor solar, espantando um enxame de insetos que bóiam no ar. Os burgueses! – eles vivem com medo de se afogar... Os poetas que suportaram as profundezas são raros, geralmente eles aprendem a nadar e movimentam os braços na direção da praia; a imensa maioria sucumbe aos seus instintos de classe, e vai ensinar poesia na academia ou declamar versos em bares.

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