segunda-feira, setembro 22, 2008

[no princípio]

... ainda quando criança, eu sonhava ser possível conhecer toda a História Universal. Ela estava inteiramente condensada em densas enciclopédias e não mais do que uma dezena de sábios tinha acesso ao seu manancial inesgotável. Estes senhores não conviviam em sociedade, não tinham nada, e até desprezavam a civilização. Estavam tão integrados à ordem do mundo que, podia-se dizer, estavam ali desde sempre, escondidos, e em cada ponto do universo eles vigoravam e sopravam em consonância. Os mestres com os quais eu sonhava eram anciãos à beira da morte, com a idade do Tempo, com a pele descascando e caindo no solo, eram indianos marrons que entendiam todos os idiomas vivos e extintos em seus pormenores, em suas sutilezas, com todas as suas derivações e dialetos, e etc. Eu tinha verdadeira fascinação por homens afastados ou marginalizados; tinha em alta conta todos os humilhados. Os meus gênios viviam em existência paupérrima no deserto, nas selvas, nas montanhas ou no fundo do mar... Considerava-os, a qualquer instante, a ponto de desvendar o mistério da Criação. Em um intervalo luminoso, eles recitariam um poema eterno, ao som de cítaras, em escalas impossíveis, revelando o início e o fim de todas as coisas onde a própria vida exalaria de seus versos descrevendo espirais de incenso no ar e impregnando a natureza inteira com seu véu de energia...

Nenhum comentário: