sexta-feira, junho 09, 2006

"Esta manhã, antes do alvorecer, subi numa colina para admirar o céu povoado,
E disse à minha alma: Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?
E minha alma disse: Não, uma vez alcançados esses mundos prosseguiremos no caminho."


WALT WHITMAN



O cometa...
Ah, os seres criativos que dormem em seus aposentos tétricos;
os gênios que formulam suas filosofias sob tetos precários, cercados por paredes duvidosas e precárias e repletas de infiltrações;
e os artistas doidos que se arrastam exaustos pelas ruas imundas, em trapos igualmente imundos, sob o sol escaldante dos trópicos;
a gente humilde que ignora para onde desce o sol quando mergulha nas profundezas do Guaíba;
os superdotados que preferem o isolamento carcerário a sobreviver sob a tutela dessa sociedade decadente;
as naturezas religiosas que desapareceram totalmente sob a névoa libertina do final do século passado -
por favor, um gás claustrofóbico para salvar nossos deuses!...

a burguesia embriagada, sob efeito de vapores ordinários;
as drogas sublimes que nos transportaram para o centro da Terra, onde o fedor é absolutamente divino e podre;
e os artistas convencionais que um dia ainda eliminarão completamente as criaturas incríveis, liquidando-os com seu aborrecimento burguês;
o proletariado que procriará até a insuportabilidade total seus próprios porcos, e seguindo a onda herege permanecerá cristão até os ossos, e na fogueira invocará o nome de Cristo!...

Mas a Arte prosseguirá firme, sob a luz duvidosa de um apartamento frio, onde um perdedor qualquer se elevará aos céus, dopado e em êxtase profundo, escrevendo cometas incandescentes sobre o céu negro da Terra.

Daniel Fontana


“o cometa porto-alegrense...”
Esta poesia, que a princípio seria denominada de "Cometa porto-alegrense", foi escrita sob uma tempestade "tétrica" (como sugere seu primeiro verso), no início de novembro de 2005, após uma tarde fervilhante típica da capital gaúcha. Trata-se, no fundo, de uma auto-homenagem que se estende a todos os fabulosos artífices da Arte que são perdedores completos.
Pode-se sustentar que foi a minha primeira reflexão genuinamente porto-alegrense. Naqueles primeiros dias, recordo-me da impressão profunda que o Sol de Porto Alegre me causou – daí a atmosfera abafada dos versos. No limite, ela não é tecnicamente uma poesia, mas apenas um delírio visionário. Escrevi-a de um jato, tentando vertiginosamente captar os fantasmas que brotavam espontaneamente e de maneira caótica no centro da sala de meu apartamento mal iluminado.
***
Historiador de pouca inspiração, porém de formação teórica sólida e consistente. Aos poucos, entretanto, seus antigos alicerces estão desabando – que a verdade seja dita: em benefício da Arte! Sua graduação foi coroada por uma excelente monografia sobre o pensamento de Nietzsche a respeito da História, especificamente no seu primeiro período de fecundidade, na metade da década de 1870.
Estudou diversos filósofos e escritores melancólicos. É igualmente um admirador profundo dos escritores russos, sobre os quais se debruçou inteiramente na primavera de 2005. Em última análise, não é um poeta, e pode-se argumentar que sequer é também um bom leitor de poesias, entretanto, nutre uma idolatria desmedida por Arthur Rimbaud, a quem enxerga como uma espécie de "alma gêmea" – como um autor que ultrapassa totalmente a barreira protetora da Arte.
O autor se aventurou por diversas áreas do conhecimento e campos da Arte. Recentemente deixou a cidade de Florianópolis para se tornar um escritor. Até agora é um fracasso retumbante! Trabalha atualmente no setor de montagens e na administração de uma loja de móveis pertencente a seu irmão, com orgulho e dedicação.

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